We’re All Going to the World’s Fair (idem, 2021, Jane Schoenbrun)



Por: João Marco

(publicado originalmente no dia 20 de Abril de 2022)

Com o advento da internet como algo comum e inevitável a casa das pessoas ao redor do mundo, com a acessibilidade de um conteúdo diverso, em meio a constantes estímulos variados que ela ocasiona, enquanto somos cercados por uma infinidade de temas, conteúdos, tendências, modas e o pior (e melhor), é impossível desviar de um sentimento predominante em meio a tudo isso: a solidão. Somos engolidos por um fluxo incontrolável de imagens, de sons e de atrativos contínuos que, no final de tudo, nos encontramos perdidos em meio a toda essa imensidão de informações das quais somos incapazes de conceber simultaneamente. Não resta nada além da solidão de horas observando o brilho intenso da tela do celular, notebook e até mesmo nossos televisores equipados com a tecnologia da smart tv. Ao final, estamos presos em nossa própria desolação digital.

É o sentimento que rodeia o cotidiano de Casey, personagem de Anna Cobb em We’re All Going to the World’s Fair quando, em certo ponto, a diretora Jane Schoenbrun filma a jovem deitada em sua cama, absorvida em uma sequência interminável de vídeos desconexos, engolida e imersa na sua solidão existencial. E isso vai além de estar presa as lentes de sua webcam ou aos cliques em um site de vídeos, já que Schoenbrun encena diversos planos na qual observamos a jovem presa em um estado completo de solidão. Ainda que Casey more com seu pai (que jamais vemos em quadro, sua presença é no extracampo; um fantasma do mundo real), jamais sentimos que a personagem tem algum tipo de apoio ou sua existência tampouco é notada pela sua figura paterna que executa um papel quase metafísico dentro do espaço - ele existe e percebemos isso, mas sua entrada no quadro é feita por intermédio de sua fala, de suas sombras, da sua sugestão em cena. Casey é, em última análise, uma jovem negligenciada por sua figura paterna.

E a sua única forma de encontrar o que não tem, de ser viva e, de fato, existir é ao ligar a webcam de seu notebook, é ao reafirmar a sua presença digital e mostrar que só consegue encontrar-se no âmbito virtual ao fazer parte do fluxo incontrolável de imagens. A jovem reconhece sua natureza solitária em cada cenário e isso começa a desesperá-la. Aos poucos, Casey nota que não existe mais para onde ir, não existe outro caminho além de se tornar uma imagem, um fantasma da recorrente e desgovernada sobreposição de impulsos, de mistérios e histórias, notícias e fatos que se aglomeram constantemente. A tal “feira mundial” do título é, ao fim, se tornar um pedaço de uma realidade distorcida na qual sequer temos noção se a outra pessoa está realmente do outro lado da tela.

Se Jane Schoenbrun quis ou não realmente conceber um projeto sobre a perdição e o isolamento do mundo virtual pouco importa. Cada experiência artística abre um mar de possibilidades em como pode ser lida. Ao final dos 86 minutos de We’re All Going to the World’s Fair só conseguia processar a última imagem que vemos de Casey, na qual seu rosto estático era aclarado pelas luzes do notebook. A menina que buscava um refúgio em meio ao amontoado de sensações que existem em frente ao seu computador, agora nada mais é do que uma mera foto perdida, um retrato fantasmagórico de alguém que, de fato, nunca existiu.

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